terça-feira, 1 de setembro de 2015


Chegou Setembro.
Para muitos, significa o fim das férias (quando estas não terminaram já), a azáfama na preparação do início do ano lectivo (para pais e filhos), e o retorno ao trabalho (para quem o tem).
Por esta altura, é também comum encontrarmos a expressão "depressão pós-férias" em alguns meios de comunicação social, como de facto encontrei há dias em exercício de zapping televisivo. 

Confesso, antes de mais, que a "psicologização" do quotidiano parece-me um exercício pouco rigoroso. Ou seja, fico demasiadas vezes com a impressão de que os "psis" (mea culpa), nos seus discursos, acabam por normalizar as patologias, criando problemas onde estes não existem (porque não existe sofrimento ou dificuldade de adaptação), e consequentemente diminuindo a gravidade do sofrimento onde este se manifesta, surgindo não raras vezes a ilusão de que bastam umas "dicas", ou a "perspectiva certa" (como um passo de mágica) para resolver um determinado problema de carácter psicológico.
Não quero com isto dizer que não existem conselhos que podem ser úteis para a generalidade das pessoas. Certamente que sim, ou os livros de auto-ajuda, os artigos que descrevem "10 truques para ser feliz", ou ainda os aforismos partilhados pelo Facebook, não teriam tanto sucesso.

Mas antes de atribuirmos carácter patológico ao 1 de Setembro, será importante reflectir que, em regra, somos avessos à mudança, pois, em regra, esta causa sofrimento e dificuldades. Tanto mais é verdade quanto mais confortáveis nos sentimos. De facto, é incómodo sair da "zona de conforto", e o final das férias é uma mudança com potencial ansioso, e que pode despoletar, efectivamente, um episódio depressivo. No entanto, é simplista pensar que uma depressão tem a sua raíz no término das férias. Poderá certamente surgir alguma tristeza, alguma ansiedade, mas estas podem ser sinais de adaptação, pois precisamos de lidar com a mudança, e o nosso corpo (cérebro incluído), muitas vezes sem darmos por isso, já se está a preparar. Quando mais conscientes estivermos das dificuldades da mudança que nos é exigida, mais fluída esta será, e a adaptação aos novos ritmos ocorrerá com naturalidade.

Por outro lado, este pode ser um período de depressão, não como consequência directa do final das férias, mas como sinal de dificuldades mais profundas, e variadas. Poderão estar em causa diversas questões, como por exemplo: o descontentamento com a própria área profissional; dificuldades de socialização que são atenuadas durante o período de férias; ou estar longe dos familiares mais significativos. Certo é, que nestes casos, as férias são somente um paliativo, pelo que o seu término não pode ser considerado o início da depressão - esta já se encontrava presente, mesmo que adormecida.

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