sábado, 29 de outubro de 2016



Quando a criança descobre que, tal como os adultos que a rodeiam, consegue, com esforço, deslocar-se sobre as duas pernas, um mundo de possibilidades abre-se à sua frente. Afinal, apesar de tão pequena, já consegue dirigir-se pelos seus próprios meios, ao encontro de tantos objetos em seu redor que exigem uma investigação mais cuidada da sua parte.

O tempo e o espaço ganham novas características, que exigem adaptações, nem sempre fáceis. Afinal, os desejos curiosos da criança já não estão absolutamente condicionados pelos interesses, e pelos braços, da mãe e do pai.

No entanto, apesar da excitação que este recém-adquirido poder pode provocar na criança, os receios que suscita, no seu íntimo, podem ser difíceis de suportar. Pelo menos sem um olhar terno, mas atento, que lhe dê segurança.

O mundo físico exige a exploração da criança. Esta quer aproximar-se, tocar, conhecer, testar. É impossível resistir. Mas a criança continua refém da sua pequenez. Afinal sente, e sabe, que este mundo é ainda, demasiado grande para que se possa aventurar sem olhar para trás. E ainda bem.

Ao olhar para trás reencontra o olhar dos pais, que olham por, e para, a criança. Ao abrigo do olhar dos pais, a criança confirma, no seu íntimo, que o espaço que os distancia é seguro, e sente-se mais forte e capaz. Confirma ainda que tem a permissão destes para se aventurar… pelo menos até onde já chegou. Um “não” poderá bastar para que não arrisque mais aventura-se. Afinal, quem é que se quer perder de quem oferece tanto amor e segurança? A aventura pode ser tão importante quanto o regresso a um lugar seguro.

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