A adolescência anuncia a sua chegada, na maioria das vezes, demasiado cedo. Demasiado cedo porque a chegada da adolescência é (em regra) um choque. Um choque para os pais que, por alguns momentos, não conseguem redescobrir a criança que antes lhes saltava para o colo, ou que a eles se abraçava, sem pingo de vergonha. E um choque para o adolescente que, sem compreender muito bem, sente-se muitas vezes um estranho entre estranhos, ele que já não se sente a criança que foi, e que anseia tanto quanto teme, o adulto que virá a ser.
Quando se usa o termo "comportamento de risco", talvez a adolescência possa ser o seu sinónimo. "Adolescer" é um risco, que de alguma forma terá que ser assumido pelo próprio adolescente. O risco de crescer, e ser menos igual aos pais, e mais igual aos amigos… mesmo quando os pais não gostam assim tanto de alguns amigos. O risco de reconhecer que o corpo está "diferente", e que se olha para o corpo dos outros também de forma diferente de quando era criança. O risco de por vezes já não saber bem o que dizer, porque já se perdeu a espontaneidade própria das crianças, e o silêncio e o olhar dos adultos pode ser tão mais reprovador do que já foi.
Para os pais, a adolescência pode ser sentida como uma perda. Perdeu-se a criança, e a relação que antes era tão próxima, agora parece terrivelmente distante. Agora, aquele que antes era criança, tem gostos incompreensíveis, ri-se de coisas que "só os da idade dele" se riem, e parece já não ouvir os conselhos dos pais com tanta atenção.
Tudo isto não acontece de um momento para o outro. Vai acontecendo. Assim como não se cresce de um momento para o outro. Vai-se crescendo.
Uma parte importante do que "vai acontecendo" é a sensação, tanto para os pais como para o adolescente, de um certo afastamento entre eles, de uma separação. Separação é, efectivamente, o termo mais apropriado, pois a adolescência marca, de forma mais evidente do que até então, o início da individualidade. O adolescente, a caminho da vida adulta, é, cada vez mais, uma entidade à parte, dentro do seu núcleo familiar. E sente-se como tal.
A separação, que pode até por momentos parecer algo trágica, é na verdade essencial. Essencial para descobrir o que se quer "ser", e o que se quer "ter". É essencial para arriscar, sobretudo quando tudo se quer ganhar (porque só assim vale a pena crescer), e perceber que algumas coisas terão que se perder.
Apesar de toda a separação, talvez seja neste período que as opiniões dos pais têm mais importância para o adolescente. Mesmo que este pareça evitar as conversas mais sérias, ou mostrar-se completamente indiferente às ideias dos adultos. Mesmo que por vezes seja tão evidente que existe uma forma melhor de se fazer as coisas, e que mesmo assim ele parece insistir em "errar".
Ainda que a separação seja necessária, a presença, em pano de fundo, de pais compreensivos perante as dúvidas do adolescente, pode ser fundamental. Para a construção de um adulto mais forte, mais capaz, e que guardará dentro de si, a segurança e a confiança que os pais nele depositaram.
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