Algumas crianças pedem para ter irmãos. Outras são questionadas antecipadamente pelos pais sobre esta decisão. Outras ainda, não têm qualquer voto na matéria, sendo simplesmente informadas de que um novo membro vem ou virá a caminho. Pondo de lado a discussão sobre qual destas formas de agir é a mais sensata, importa que os adultos compreendam uma coisa: as crianças precisam de aprender a gostar dos irmãos. Este é um percurso que se inicia no momento em que têm conhecimento da gravidez da mãe, e que se prolonga por tempo indeterminado.
Quer isto
dizer que as crianças podem não
gostar dos irmãos? Não! No entanto, a chegada de um irmão significa partilha.
Partilha de atenção, partilha de objectos, partilha de afectos. E por vezes as
crianças, sobretudo as mais pequenas, ainda não estão disponíveis para
partilhar, uma vez que sentem, no seu imaginário, que o mundo gira em torno de
si.
Após o nascimento
de um(a) irmão(ã), as crianças atravessam algumas fases no que respeita à
forma como se relacionam não só com o bebé, mas também com os restantes
familiares. Numa primeira fase, é notória a curiosidade relativamente a um ser humano
tão pequeno. Para saciar esta curiosidade, a criança necessita de lhe tocar
constantemente, como se esta fosse a única forma de perceber que o irmão é
real. No entanto, os pais limitam este contacto físico, pedindo-lhe que tenha
cuidado, evidenciando a fragilidade do bebé e a necessidade de o deixar
descansar. Descontente com isto, a criança entra numa nova fase: a da
desilusão. O bebé não “lhe pertence” e não pode fazer com ele o que quiser.
Esta desilusão acaba por dar lugar a uma certa hostilidade, caracterizada por
momentos em que a criança arranha, belisca e bate no bebé. Desta forma, mostra
ao novo membro, e aos pais que está descontente com a situação. Por volta desta
altura, surgem também alguns comportamentos regressivos: pedir novamente a
chupeta ou o biberão, perda do controlo esfincteriano, alterações no sono e alimentação,
entre outros. Todo este processo existe, porque a criança não é capaz de
compreender racionalmente que o bebé não lhe rouba o amor dos pais.
Por outro
lado, os irmãos mais novos tendem a aceitar bem os mais velhos. Parecem
manifestar uma grande resistência às brincadeiras do irmão mais velho, mesmo as
mais bruscas. À medida que crescem, sentem prazer em imitar os irmãos e aspiram
a ser como eles. Contudo, tendem por vezes a usar do seu estatuto de “filho
mais novo” para fazer queixa do irmão, quando a situação não lhe é favorável.
Para além do
irmão mais velho e do mais novo, existem por vezes os irmãos do meio. As
crianças que desempenham o papel de irmão do meio, vêem-se muitas vezes a
braços com um estatuto “negativo”, na medida em que ainda são pequenos para
determinadas responsabilidades, são suficientemente crescidos para se portarem
bem, e são demasiado grandes para receber a atenção que é dada ao bebé.
Apesar de as
relações entre irmãos serem frequentemente fonte de preocupação para muitos
pais, estas não justificam, na grande maioria das vezes, um pedido de ajuda ao
Psicólogo. Este facto deve-se à aceitação de sentimentos e comportamentos de
rivalidade entre irmãos, sobretudo enquanto crianças. No entanto, é importante
que os pais saibam que a forma como gerem essa rivalidade, influencia a relação
entre as crianças, tanto no presente como no futuro.
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