segunda-feira, 28 de novembro de 2016


Em França, a École Maternelle designa o que em Portugal chamamos de Jardim de Infância. O termo francês é particularmente rico, pois remete directamente para a função que esta “escola maternal” deverá desempenhar no desenvolvimento da criança. Como o nome indica, não serve esta “escola maternal” tão simplesmente para formar inteligências e transmitir conhecimentos. Destinada à faixa etária dos 3 aos 6 anos, a escola maternal pretende antes de mais proporcionar um contexto de segurança, no qual a criança poderá dedicar-se a “uma outra forma de vida”, após ter adquirido as suas aquisições básicas. Irá aprender a viver em sociedade, com os seus pares, e com outras figuras que desempenham papeis parentais e de autoridade. Aprenderá a dar “os bons dias”, o contar o que sucedeu consigo, e com a sua família, pois é ela o representante da sua família no meio escolar, um papel da maior importância. Considerar, com alguma sobranceria, que a criança poderá não compreender, ou não estar interessada, no meio escolar, é desrespeitá-la e inferiorizá-la, não a reconhecendo como um adulto em devir.

No entanto, chegando ao ensino primário, não é invulgar encontrarmos crianças que se encontram algo “atrapalhadas” nas suas aprendizagens. São consideradas “preguiçosas”, apesar de inteligentes, e porventura “só querem brincar”, pelo que “a escola não lhes interessa”. O discurso de pais e professores muitas vezes transmite a ideia de que estas crianças são “um bocadinho especiais”, e que, talvez, a escola não seja o lugar para elas.

Apesar de a escola primária já não se revestir das características do jardim de infância, é preocupante que possa não estar a conseguir desempenhar a sua função junto destas crianças. A escola que não ajuda a criança a descobrir a emoção de aprender, não está a desempenhar a sua função. A escola que não ajuda a criança a sentir-se segura nos seus actos, não está a desempenhar a sua função. A escola que não ajuda a criança a sentir que faz legitimamente parte da sociedade dos seus pais, não está a desempenhar a sua função.

Não basta querer mudar as crianças. Uma escola que não serve para todos não cumpre o seu desígnio. A escola também tem que mudar.

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